
Queiroz Pereira pondera alternativa para investir mil milhões em fábrica de pasta de papel se o Governo não der condições em Portugal.
Moçambique é, neste momento, um forte candidato ao investimento de mil milhões de euros que a Portucel prevê efectuar na construção de uma nova fábrica de pasta de papel, constituindo-se como uma alternativa a Portugal e até ao Uruguai. A localização geográfica e a elevada produtividade das florestas de eucalipto justificam a atractividade do país. E a Portucel, que nunca descartou a hipótese de desenvolver este projecto em África, estuda com interesse a viabilidade da instalação da fábrica no mercado moçambicano.
“Moçambique pode bem ser uma alternativa ao Uruguai [no investimento previsto pela Portucel], já que este país tem condições para ser um dos mercados mais competitivos do mundo na indústria da celulose”, defendeu ontem em Maputo Basílio Horta, o presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). Durante o Observatório do Diário Económico, que ontem decorreu na capital moçambicana, este responsável sublinhou, aliás, que, por tudo isso, é natural que a Portucel, controlada pelo grupo de Pedro Queiroz Pereira, já esteja a estudar um investimento em Moçambique. O DE tentou ontem contactar a empresa portuguesa, o que se revelou impossível até ao fecho da edição. Ainda assim, outras fontes dão como certa a existência de contactos entre a Portucel e entidades moçambicanas. Abdul Magid Osman, antigo ministro das Finanças moçambicano e ex-presidente do BCI Fomento, que também participou no Observatório do Diário Económico subordinado ao tema “Investimentos e Relações Comerciais entre Portugal e Moçambique”, também confirmou ter conhecimento do interesse da Portucel.
Quando no início de Março, a Portucel assentou, numa cerimónia que contou com a presença do primeiro-ministro José Sócrates, a primeira pedra da nova fábrica de papel, em Setúbal, Queiroz Pereira frisou que admitia construir uma nova unidade de produção em Portugal, desde que fossem tomadas as medidas que assegurassem em território nacional a existência de eucalipto suficiente para sustentar o investimento. Na altura, o empresário explicou que não seria necessária mais área de floresta, mas antes uma adequação das práticas de florestação que potenciassem a produtividade dos terrenos.
A existência destas condições no Uruguai, bem como a oferta de um quadro fiscal favorável justificaram, até agora, alguma preferência da Portucel por este país da América do Sul. No entanto, ainda não foi tomada qualquer decisão, não tendo sequer sido eliminadas as possibilidades de Angola, Moçambique ou Brasil.
Jorge Armindo, que foi presidente da Portucel até à sua privatização, é outro dos que partilha do entusiasmo por Moçambique, sublinhando que os principais grupos mundiais do sector da pasta e do papel, nomeadamente os brasileiros e os nórdicos já começaram a olhar para este mercado numa perspectiva agro-industrial. O investimento na floresta em Moçambique é muito interessante, na opinião deste empresário. “Terá que haver uma plataforma em Moçambique, dadas as condições ímpares do país na plantação de eucalipto e no escoamento para o mercado asiático. Se não forem os portugueses a entrar, serão os brasileiros e os nórdicos, que já começaram com plantações de eucalipto. Calcula-se que a produtividade do eucaliptal seja, em climas tropicais, ou sub-tropicais, como é o caso de Moçambique, três a quatro vezes superior à portuguesa. As questões logísticas e de infra-estruturas, bem como uma legislação rígida sobre o regime de propriedade e usufruto dos solos são, na opinião de Basílio Horta, os aspectos a resolver pelo Governo moçambicano, já que “podem tornar-se num impedimento ao investimento estrangeiro
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