sexta-feira, 6 de julho de 2007

Belmiro diz que falou a “brincar” mas a cotação da Inapa disparou (in Diário Económico de 06-07-2007 )

A frase “a brincar” do empresário foi interpretada pelo mercado como conhecimento de uma OPA sobre a Inapa. CMVM está atenta e já pediu esclarecimentos a Belmiro de Azevedo.

Tiago Freire e Sílvia de Oliveira

Uma frase pode não ser apenas uma frase, mesmo quando dita “a brincar”. Muito menos quando o seu autor é Belmiro de Azevedo, o patrão do grupo Sonae, que provocou ontem alguma turbulência no mercado de capitais.

Falando na cerimónia dos prémios “Investor Relations & Governance” do Diário Económico e da Deloitte, na quarta-feira à noite, Belmiro de Azevedo afirmou que, “só para terminar, um bocado a brincar, digo-vos que já está a começar um ‘takeover’ muito especial, que é o de uma empresa controlada a 100% pelo Estado. Não digo qual é, mas gostava de saber como a CMVM iria reagir a uma situação dessas”. Ironizando ou não, a verdade é que parte do mercado encontrou fundamento nestas palavras, e estabeleceu uma ligação com a Inapa, cujo maior accionista é o Estado português.

“Os investidores tentaram interpretar e apostaram na Inapa, o que levou à subida das acções”, afirmou um operador que pediu para não ser identificado. Os títulos da Inapa fecharam a ganhar 6,21%, para 1,88 euros, depois de um “salto” abrupto ao final da manhã. Também a liquidez de 775 mil papéis negociados fugiu ao normal, ficando mais de cinco vezes acima da média diária registada desde o início do ano. Analistas e outras fontes de mercado fizeram igualmente a mesma associação, embora salientem a surpresa e até a estranheza do eventual interesse do empresário na Inapa. A enigmática frase de Belmiro de Azevedo não indicia necessariamente que seja ele o autor da suposta oferta, podendo ser apenas um comentário acerca de algo que o gestor tenha conhecimento.

Em declarações ao DE, o empresário clarificou que, ao terminar a sua intervenção, decidiu deixar para reflexão, em jeito de brincadeira, a análise do modelo de ‘governance’ em vigor no Estado e nas empresas por ele dominado. Belmiro de Azevedo reiterou ainda que a sua frase era absolutamente irónica, até porque um ‘takeover’ de uma empresa detida a 100% pelo Estado seria uma impossibilidade técnica.


CMVM pede esclarecimentos
Estas declarações, bem como o efeito tido sobre o mercado, levaram a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários a contactar Belmiro de Azevedo e exigir um esclarecimento. Nesse contacto, e segundo fonte oficial da CMVM, “foi dito que [Belmiro de Azevedo] não se estava a referir a qualquer empresa cotada”. A mesma fonte acrescentou que o regulador “continuará atento à evolução da cotação das empresas em bolsa, nomeadamente da Inapa”.

Segundo alguns accionistas da Inapa contactados pelo DE, não são novas as notícias que dão conta do interesse em lançar uma OPA sobre a empresa, embora Belmiro de Azevedo nunca tenha surgido em qualquer rumor. De acordo com as mesmas fontes, a hipótese de comprar a empresa, com uma capitalização de pouco mais de 50 milhões de euros e cujo valor em bolsa cai 30% em 2007, tem vindo a ser estudada, em profundidade, por um investidor português

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